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quarta-feira, 30 de junho de 2010

com a cabeça nas nuvens e os pés no chão

A despeito do que possam afirmar, todos se submetem a um cabedal ideológico, mesmo que inadvertidamente. A bicho-grilagem explícita obrigatória a que nos submetem já é um ideário hippie.
Por que temos de nos submeter ao conteúdo do desdém? Por que devemos ser "críticos" sem um mínimo de conteúdo, impossibilitados de contestar conceitos ideológicos com repertório intelectual, ao menos similar, sem cair em clichês do tipo 'alienação', exclusão, enganação, elites, ou ainda utilizando argumentos como "ideologia é foda".
Ao optarmos por uma linha de ação, raramente não estamos cooptando uma ideologia, seja ela conservadora, crítica, revolucionária ou afins e confins. Reproduzimos e vendemos idéias do 'faça o que tu queres pois é tudo da Lei', sem ao menos saber que pensadores como Bakunin e Proudhon, e grupos como os dadaístas já pregaram este ideário, embasando suas idéias com argumentação ao menos coerente.
Às vezes, achamos que as mais libertárias ideologias são aquelas de esquerda, mas nos esquecemos que as idéias de esquerda aplicadas na práxis política tinham o status de credo incontestável, mais intocáveis que a virgindade de Maria e o celibato de Cristo. Nos vemos muitas vezes defendendo veementemente causas como o aborto, a diminuição da maioridade penal, ou ainda, nos posicionamos indignados contra o voto obrigatório ou a Política de cotas raciais para acesso às Universidades, sem ao menos refletirmos com a necessária profundidade, e sem verificarmos com base em que pressupostos tais ações foram implementadas. Simplesmente argumentamos pela 'Liberdade', 'Segurança', 'direitos iguais', 'competência'.
Depois, vamos às lágrimas com vídeos do Marthin Luther King, ostentamos uma camiseta com a cara do Che Guevara, nos arrepiamos com frases de efeito - nos moldes do 'o que me assusta não são os atos os maus, mas o silêncio dos bons'. E dá-lhe depois defender a pena de morte, achar o máximo que certas categorias de criminosos sejam barbarizados na cadeia, torcer para que possamos prender qualquer um que já seja capaz de mijar sozinho. Incoerente. Ou, quem sabe, a ideologia do agora (desculpem parafrasear o blog dos outros) seja a ideologia do caos, onde uma coisa não tem nada a ver com outra, e eu possa fumar um bom baseado e torcer para que o traficante - do qual eu sou patrocinador e às vezes sócio minoritário - seja torrado em 2.200 volts.
Critiquemos pois a ideologia como coisa inútil, invenção descabida de elites que gostam de regulamentar a vida alheia, coisa de pensadores birutas que se só optaram por o serem porque não sabiam jogar bola, perda de tempo - preencher minha grade curricular com isto, ao invés de úteis cálculos e pragmáticos programas computacionais. Não tomemos conhecimento e deixemos que o mundo tenda suas ações ao infinito, sem objetivos pré-definidos, já que estes são desnecessários, sem direcionamento paradigmático - cada cientista que pesquise e produza como melhor lhe aprouver -, quem sabe, delícia das delícias dos ideólogos (desculpe, dos não-ideólogos) bicho-grileiros, até sem Governo. Cada um por si.
Não deveríamos buscar o conhecimento do conteúdo de cada posicionamento ideológico, e realizarmos a crítica - ou até aceitá-los, se nos convencerem, procurando contextualizar e veriicar como são postos em prática? Não seria melhor que só afirmar apressadamente que tal e tal ideários são 'Reaças', 'Comunas', 'neo-liberais', 'capitalistas'? Critiquem. Perguntem. Desafiem. Contestem. Como no título, prefiro me portar como no título, by 'Engenheiros do Hawai' - Com a cabeça nas nuvens e os pés no chão. E não digam que sou peessedebista, hein? é rótulo, portanto, demodé.

5 comentários:

  1. Eh não é a toa

    "Quando ronaldo fala, a aula acaba"

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  2. Fica até difícil de comentar algo! Mas eu vejo que o homem aceitou e aceita tantas ideologias diferentes, na busca de entender de alguma forma o seu valor e lugar no mundo. Quão mais carentes e desprovidas de conhecimento são as pessoas acabam sendo alvos fáceis para sofrerem um certo controle ideológico.
    Sobre o titulo do post " Com a cabeça nas nuvens e os pés no chão ", seria bom que o mundo fosse assim, pois cada um teria liberdade para pensar, e a razão para fazer o que acha certo e não o que a sociedade lhe passa como tal.

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  3. Discordo em partes, pq considero uma generalização, o senso comum não paira no ar, nem todos repassam ideias já pensadas por outros que optaram por não jogar bola rs

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  4. Dada a profundidade da postagem terei que fazer recortes para fazer uma análise coerente das idéias expostas. Que todos se submetem a uma ideologia, mesmo sem perceber eu concordo plenamente. Tão desprezível como tentar fingir que não nos submetemos a uma ideologia dominante é a ideologia contrária "revolucionária", vazia, cheias de frases de efeito e inundada na hipocrisia. Creio que a combinação ideologia e pragmatismo é incoerente por natureza. Ideologia não é um receituário que dê para ser seguido cotidianamente, por isso, posso me confortar em buscar uma via pragmática para resolver os problemas da vida e poder idealizar, sonhar, projetar um modo de vida que poderia ser melhor. Não quero fórmulas prontas, olho ao meu redor e me vejo cercada de gente dizendo o que, como e quando fazer as coisas. Chega! Quero um novo caminho, novos olhares, novas vivências, nem por isso jogo na lata do lixo tudo que já se viveu, tudo que já se pensou e se fez, busco a partir da observação crítica tentar entender as coisas. É por este caminho tortuoso que busco a liberdade, claramente colocada no título: com a cabeça nas nuvens e os pés no chão.

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  5. Concordo com grande parte do que foi dito mas, o que mais me chamou a atenção com o início do parágrafo final: "Não deveríamos buscar o conhecimento do conteúdo de cada posicionamento ideológico, e realizarmos a crítica - ou até aceitá-los, se nos convencerem, procurando contextualizar e veriicar como são postos em prática?"
    Acho que o que nos falta é a contextualização da ideologia.

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