Ao comentar no post do Afonso abaixo me veio a cabeça o Conar, que trabalha nesse mundo da publicidade aqui no Brasil, citei no comentário um pouco sobre ele, mas decidi buscar mais informações e coloca-las aqui para o nosso blog, pois acho que vocês acharão interessante como um órgão que não é publico entra na vida das pessoas todos os dias.
Peguei dois artigos: um do próprio site do Conar, e um outro da revista Exame, que mostram um pouco sobre alguns pontos interessantes.
"O Conar é o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária. É uma entidade do mercado publicitário. Segundo a auto-apresentação publicitária que o próprio Conar faz de si em anúncios veiculados na imprensa, ele é "um órgão criado por agências, anunciantes e veículos para zelar pelos limites éticos da comunicação comercial". Nessa auto-apresentação publicitária, o "órgão" promete proteger o consumidor. "Se algum dia um anúncio ofender a sua família, defenda-se: faça uma queixa ao Conar. Você vai evitar que os outros consumidores também se sintam prejudicados ou ofendidos, e vai ajudar a elevar cada vez mais o nível da propaganda brasileira.
...Quando se trata de debater sua própria conduta ética, quando se trata de debater os direitos dos telespectadores, bem aí, é inútil contar com os ouvidos e com a sensibilidade da TV comercial.
De uns tempos pra cá, pelo menos existe o Conar. A publicidade abusou? Tem mensagem racista? É preconceituosa? Nesses casos, ele pode ser eficaz. Já é alguma coisa. Melhor que nada.
... O Conar apenas defende a boa imagem da publicidade. Seu interesse fundamental é fortalecer o mercado anunciante e, para isso, ele sabe, e faz saber, que a credibilidade é indispensável. Aparecendo como defensor do cidadão indefeso, o Conar ajuda a melhorar o conceito que a sociedade tem do negócio da propaganda. É só disso que se trata.
...Eu repito: o Conar é bem-vindo. É um fator de educação dos publicitários, o que é necessário e urgente. Mas ele não é e nem poderia ser defensor do cidadão. "
O segundo artigo da revista Exame trás os motivos pela retirada do comercial da cerveja Devassa do ar."Esta semana o Conar, um grupo de autorregulamentação publicitária formado por luminares da Comunicação, doutos senhores e respeitáveis senhoras que dedicam seu valioso tempo a defender inocentes brasileiros como você e eu da tremenda ameaça dos comerciais malvados, abriu nada menos que três processos contra a ação da Devassa. Um dos modos que eu uso para definir o Conar é assim: órgão perseguidor dos comerciais que dão certo. Basta uma publicidade causar, atingir seus objetivos, gerar discussão, curiosidade, bafafá, que o Conar entra em ação como uma tia velha, carola, solteirona, amedrontada e pouco instruída para trazer tudo de volta à mornura e à mesmice. Outro jeito que me ajuda a mapear o Conar: tudo que eu acho legal eles vetam. Tudo que eu considero criativo, ousado, divertido, bem sacado faz os bigodes do Conar eriçarem suas cerdas grisalhas.
...Eis o mérito dos processos contra a ação da Devassa: o primeiro, impetrado por um consumidor (ou por uma consumidora), reclama da sensualidade do filme.
...O segundo processo, iniciativa do próprio Conar, reclama do “estímulo ao uso excessivo de bebidas alcoólicas”. (Eu assisti aos comerciais, visitei o site e honestamente não entendo no que essa ação é diferente de todas as outras publicidades de bebidas mundo afora no tocante ao estímulo ao consumo. Ademais: comercial não existe exatamente para isso – estimular o consumo? Não é a maior das hipocrisias e o cúmulo da falsidade gente que vive de estimular o consumo de absolutamente tudo, e que construiu a sua carreira vendendo qualquer coisa para qualquer um, agora vestir o fraque e as luvas brancas e vir com esse tipo de conversinha?
...O terceiro processo, impetrado pela Secretaria Especial dos Direitos da Mulher, reclama do filme pelo “conteúdo sexista e desrespeitoso à mulher”. Imagino que o ressentimento se refira à reificação da moça, ao aproximar a loira humana da loira gelada. E que a bronca seja também com o retrato da moça como um símbolo sexual."
Nesse mesmo artigo, que eu apenas reproduzi alguns trechos acima ele levanta uma discussão que deixo na integra a baixo:"Ao fim e ao cabo, ao contrário do que eu tinha imaginado, nenhum dos processos do Conar se refere ao fato de a ação da Devassa ser mais um elemento a tirar audiência da TV aberta e levar para a internet. O beiço, portanto, aparentemente, não se deve a esse pequeno mas importante detalhe.
Encerro meu arrazoado afirmando ao Conar, aos telespectadores pudicos e caretas e à Secretaria Especial dos Direitos da Mulher, entre outros verdugos do direito de expressão, comercial ou não, e do meu direito de decidir ouvir ou não, de ver ou não, de ler ou não o que essas empresas tem a dizer, que o pior castigo para um mau comercial é o julgamento popular negativo. O pior revés para uma publicidade ruim é vender mal um produto. Ou desvendê-lo, afastá-lo da estima das pessoas, criar rejeição. Ou seja: não há nada pior, para um comercial malfeito, do que ser veiculado.
A alternativa a isso é censura. E, nessa perspectiva, talvez fizesse sentido cassarmos a própria marca, que é um acinte: “Devassa”. Onde já se viu? Assim como o slogan: “Um tesão de cerveja”. Absurdo. A nomenclatura dos tipos de cerveja – Loura, Índia, Ruiva e Negra – também soa absolutamente sexista e desrespeitoso. Sem falar nas comidinhas que aparecem no cardápio das Cervejarias Devassa: os pratos, bem gostosos, aparecem com nomes como Gulosinhas, Afogadinha no Tutu, Carnudinha, Na Moita, Bem Dotado, Deditos Endiabrados e por aí vai. Quanta barbaridade.(SILVA,2010)"
Depois de ler um texto assim sobre algum tipo de censura, muitas vezes cega a sociedade comum, que eu entendo a importância das discussões que estamos tendo em sala, pois o mundo não é exatamente como querem que a gente engula ele!
Fontes:
Acesso em: 13/07/2010.