Páginas

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Os dois garotinhos...

Hoje, após a derrota do Brasil para a Holanda, eu voltava ao trabalho vendo os rostos das pessoas completamente descrentes e horrorizados; parecia um luto de toda uma nação por um problema gravíssimo e inédito, algo que alteraria seu futuro e seu caminho para uma posição mais estável dentro de um mundo instável. Ao descer do meu carro quentinho neste dia gelado ouço uma criança me chamar; era um dos dois meninos que se aproximavam de mim com cerca de seis anos de idade perguntando se poderiam engraxar meus sapatos. Nessa hora fiquei um pouco perplexo ao atentar que a desolação de todas aquelas pessoas que passavam ao meu redor era proveniente de um simples campeonato esportivo apresentado por exemplos vivos de um dos mais visíveis concentradores de renda que pude me lembrar no momento.

Este fato me remeteu às discussões anteriores que tivemos sobre a questão das políticas de afirmação dentro da sociedade brasileira atual as quais, mediante discursos ferrenhos, fui um dos defensores de que tais políticas eram apenas formas de encobertar os reais males existentes e provenientes de uma maldita herança cultural de imensa dificuldade de ser superada. Mas “peraí”... Não é bem assim! Não podemos ser absolutistas em nossas opiniões. Ao parar para refletir um pouco me dei conta de que essas políticas são extremamente necessárias, independente do que digam os “buscadores da verdade absoluta” sobre tais políticas beneficiarem pessoas que não as necessitam ou sobre casos de corrupção a elas relativas. Infelizmente, a corrupção está presente de modo ávido como, por mais negativo que seja, um “valor” cotidiano dentro da antiética humana e, neste ponto, não me restrinjo ao Brasil.

Na referida discussão falei que os governos deveriam criar novas políticas de desenvolvimento nas áreas de necessidades de base da população como, por exemplo, na educação. Porém, tais desenvolvimentos devem estar atrelados às políticas afirmativas pois tratam-se de mudanças de longo prazo cujas estimativas de melhora considerável não podem ser medidas com precisão. Portanto, essa união de políticas representaria um momento transitório até a amenização das desigualdades existentes.

Esse momento transitório acaba sendo utópico pois o investimento pesado em políticas de longo prazo não interessa aos políticos que, em sua grande maioria, pensam apenas dentro do curto prazo para poder apresentar concretizações em suas próximas candidaturas.

Diria que comentar a tal alienação por muitos já citada aqui seria apenas insistir em mais um clichê já tratado, conceituado, contestado, apoiado, xingado... Mas quando vejo que todo um país pára o seu cotidiano de “casa-trabalho-casa” para se decepcionar, chorar e se descabelar por uma seleção cuja renda de qualquer um de seus jogadores poderia ser utilizada para a manutenção de muitos projetos de desenvolvimento de pequenas comunidades, tento buscar os nossos valores e simplesmente não os encontro; e o que mais me chama a atenção é que neste momento todos se unem sobre uma só bandeira e apontam os erros que ocorreram, seus culpados e quais seriam as soluções! Mas não somos capazes de nos unir para a mesma discussão sobre o caso daqueles dois pequenos engraxates que motivaram esta expressão da minha opinião. Porque não nos unimos para apontar os erros, os culpados e as soluções para este real problema!?

Vivemos no comodismo. É muito mais simples viver nossas vidinhas sem sentido da forma mais simplista possível! Ah... Mas isso é óbvio! Porque eu iria me dar ao trabalho de tentar entender os problemas que nos cercam se posso simplesmente dizer que “a culpa é daqueles que estão lá em cima”? Porra! Se pensarmos na forma de ideologia como persuasão aos interesses de um grupo unido que os impõe sobre os mais fracos vejo que a grande maioria da população é alvo fácil desta concepção.

Precisamos de novas ideologias, novos líderes e novos motivos para nos empolgarmos na busca de melhorias; mas antes de tudo isso devemos procurar dentro de nós o que sobrou dos nossos valores, eliminar a nossa antiética e, principalmente, parar de achar que o problema não é nosso... Somos contraditórios, medrosos e inexpressivos.

Espero que os bisnetos daqueles dois garotinhos possam viver suas infâncias e alimentar seus sonhos sabendo que têm suas necessidades básicas atendidas por bases sólidas.

12 comentários:

  1. Tenho muito orgulho de você Felipe,sempre me preocupei em deixar o mundo um pouco melhor.Hoje quando li seu post percebi que consegui tal objetivo ao colocar no mundo você e seus irmãos.Como diz a canção do Rappa "valeu a pena eh eh, valeu a pena eh eh...."

    ResponderExcluir
  2. "Mas quando vejo que todo um país pára o seu cotidiano de “casa-trabalho-casa” para se decepcionar, chorar e se descabelar por uma seleção cuja renda de qualquer um de seus jogadores poderia ser utilizada para a manutenção de muitos projetos de desenvolvimento de pequenas comunidades, tento buscar os nossos valores e simplesmente não os encontro"

    Fê...
    Claro que você encontrou nossos valores.Eles Estão Aí, em tudo o que você descreveu.
    Você pode não achar válido, mas é isso que somos.

    É foda pensar que tudo o q temos é "só isso".

    ResponderExcluir
  3. Caramba!
    Minha mãe comentou o post! Que moderninha!

    ResponderExcluir
  4. Mando muito no texto Felipe! Todos nos brasileiros temos agora 4 anos pra ver se essa realidade muda ou se vamos ficar ainda mais reféns de um evento esportivo!

    Posto aqui o blog do meu amigo que fez aquela critica sobre um livro de ideologia que eu te falei em sala, dei uma lida, acho que pode ser interessante para a discussão.

    http://lucones.blogspot.com/2009_03_01_archive.html

    ResponderExcluir
  5. A indignação do Felipe faz todo o sentido. Será que o brasileiro prefere ser campeão mundial do que ter algo para comer todos os dias? E cade o nosso potencial para indicar soluções para problemas como aquele meninos engraxates? Será que só sabemos opinar de futebol porque só isso nos importa e nos afeta? Podemos e devemos indicar soluções para o futebol, mas também, para outros assuntos que são até mais importantes para nós. Como incentivador para criar as citadas soluções fica como dica ver (ou rever) o trecho do filme postado abaixo.

    ResponderExcluir
  6. Sempre pensei em como tantos param por causa de uma Copa do Mundo, mas passam por cima de dois garotinhos engraxates, de moradores de rua, enfim,mtodos os que sofrem devido à desigualdade social, a enorme concentração de renda, a falta de humanidade de alguns que visam apenas sua ganância, que pensam porém não sentem, esquecem seus valores...Acima vejam o vídeo, reflitam e comentem!

    ResponderExcluir
  7. Dá-lhe tia Ângela!!!! (mãe do lipe)

    Acho que toda essa comoção e tristeza que as vezes aparece tão sólida, num instante fica em segundo plano na maior parte das pessoas.
    Na hora é fácil se comover, mas não faz sentido se depois de uma semana você já não lembra de nada e continua "vivendo por viver", não faz sentido algum se comover e não agir para mudar essa realidade.
    Temos que tomar uma decisão desde agora, e essa decisão é mudar a realidade não só a nossa mas também a realidade de pessoas que nós por agora podemos até desconhecer a existência .
    Fico feliz em ver esse post do lipe justamente porque nós dois decidimos na ultima volda da faculdade juntos, que vamos "mudar o mundo".
    O como ainda não sabemos mas isso é detalhe.

    ResponderExcluir
  8. Nossa tb pensei nisso nessas semanas de Copa, apesar de amar futebol e de assim como a maioria dos brasileiros ter ´´parado`` com a Copa, acho q vc tem total razão no seu post, como nos unimos para coisas tão menos importantes e as coisas q realmente tem um significado na melhoria de nossas vidas ficam ao Deus dará. Sou total a favor de toda essa comemoração nas Copas e etc, mas acho q devemos criar prioridades, unirmos ee de alguma forma tentar mudar o mundo.

    Obs: Felipe, q mãe moderna, acho q a minha nunca comentaria aqui.

    ResponderExcluir
  9. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  10. Fê...

    Concordando com vc, acredito que o comodismo faz com que a gente acabe por aceitar certas atitudes impostas por nossa sociedade, onde o máximo que fazemos é escolher pessoas pouco preocupadas para nos representar e lutar por aquilo que acreditamos ser o correto, acusando-os caso o contrário de nossos desejos seja feito.

    O fato é que, infelizmente, são poucas as pessoas que realmente estão dispostas a mudar tal realidade, lutando por algo mais justo, direitos iguais e, acima de tudo, respeito pelas existências dos demais.

    Tomemos como exemplo a união da população em torno de um acontecimento como a copa do mundo, onde devemos repetir tal ato com o mesmo entusiasmo e dedicação, quando abordamos fatos relativamente mais importante e significativos para a mudança dessa realidade ainda triste em que vivemos.

    ResponderExcluir
  11. Problematizando ... ver as lágrimas escorrerem pelos olhos da nação por causa da perda do jogo na copa do mundo, me remete a dois sentimentos. Um de tristeza ao ver este espetáculo de "pão e circo" logo depois precedido por uma cobertura incrível do assassinato da ex-namorada de um jogador neste mundo "tão violento". Outro de alegria por saber que a apatia que tomou conta no meu ser ainda não contaminou o resto da nação. Há um sentimento de um Brasil diferente (ilusório, é claro), onde as oportunidades surgem e as coisas melhoram, onde o brasileiro sente orgulho de o ser e já não se remete aos tataravós para buscar sua descendência meio européia.

    Só que sabemos que nosso Brasil é bem diferente do que o que passa na televisão. Somos obrigados a olhar mais perto e perceber que formas de dominação se perpetuam, mudando as formas de se apresentar, disfarçadas em discursos e idéias. Infelizmente vivemos no tempo em que os heróis morreram, as ideologias contrárias se desmancharam e tudo parece estar mcdonaldizado. A propaganda da ascenção de uma nova classe média, joga para debaixo do tapete o grito sofrido de gente que ainda vive na miséria, que não tem como suprir suas necessidades básicas. Conscientes que somos desta catástrofe social silenciosa devemos observar nossos valores (sim nós temos) de forma crítica e entendermos o quanto somos responsáveis por tudo isso, quer tentemos tomar alguma atitude para a promoção de mudanças, quer fechemos as portas de nossos carros e nos aqueçamos com o ar condicionado nesta noite fria e triste que se tornou nossa sociedade pós-moderna.

    ResponderExcluir
  12. Li o texto, os comentários .. e acho que vou falar um monte de "abobrinhas" mas, concordo com o que foi dito, que teve ser feito isto ou aquilo, ou que a população "pára" (com o meu português antigo) por causa de jogos de futebol. Mas se formos pensar bem, o brasileiro, assim como os romanos (lembrando da política do pão e circo) se alegram com este tipo de situação, as crianças na rua ? ah, podemos ver depois, agora é copa !
    Mas, lembro de algo que foi falado em aula, nós precisamos alimentar nosso "subjetivo", esta situação se aproxima da situaçõa em que pessoas deixam de comer para comprar um tênis, isso os deixa feliz !
    O futebol é onde o brasileiro se mostra, se sente importante, alimenta seu ego.
    é necessário a conscientização da população que a vida é mais que isso mas, o caso das crianças nas ruas, talvez seja outro problema, algo muito maior.
    Bem, como eu tinha dito, pode ser tudo "abobrinha" mas .. minha opinião !

    ResponderExcluir