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domingo, 4 de julho de 2010

Tudo é ideologia?

Apesar da abrangência do termo, e da ideologia permear quase tudo que fazemos, não podemos tratar TODOS os assuntos como ideologia. É uma ingenuidade não acreditarmos que grande parte das ações, principalmente as originárias das classes dirigentes, não sejam realizadas com o intuito de reproduzir um conceito ideológico, mas algumas ações são realizadas para obterem exatamente o fim a que se propõem. Às vezes um dirigente quer construir uma estrada para ligar um lugar a outro e permitir o trânsito de veículos. E só. Não é para beneficiar uma casta ou para fazer a Guerra contra povos oprimidos no século que vem.

Stanislaw Ponte Preta disse que "futebol não é uma questão de vida ou morte. É mais que isso!". Com esta tirada, o escritor-humorista-jornalista-dramaturgo demonstrava o sentimento de um torcedor, não só brasileiro, mas de todos os amantes mundiais do esporte bretão, que é o esporte mais praticado, seguido e rentável do planeta. E vos pergunto: qual a utilidade disso? Por quais motivos práticos assistimos a uma partida nos estádios, acompanhamos os noticiários esportivos, compramos produtos licenciados de clubes, torcemos para um time? Ouvimos muitas vezes coisas como 'eles não pagam minha contas', 'não vou ganhar nada com a vitória do time mesmo' ou 'por que me preocupar em ver 22 machos correndo atrás de uma bola?' E respondo que existem até algumas motivações de ordem prática para justificar a imensa atração que temos pelo esporte e pela arte, mas elas são as que menos interessam. Acompanhamos competições esportivas pelo mesmo motivo que somos fissurados numa banda de rock: simplesmente porque gostamos disso. É nossa catarse, nossa projeção psicológica, é o que nos emociona e arrepia. E não adianta nos condenar por isso. Me emociono também com discursos políticos, com a atitude de filantropos, com imagens chocantes de fome, guerra e tragédias. Mas sei também que um jogo de futebol e uma corrida de fórmula 1 me interessam muito mais que as vacas espalhadas pelo mundo inteiro a título de arte. Concordo que são arte, e compreendo que gostem. Mas não me emocionam.

Temos que ter cuidado com nossos desejos. Desejamos que tudo tenha sentido prático? Então concordamos que a música de qualquer comercial de groselha vitaminada é mais importante que a quinta sinfonia, pois tem um objetivo prático. Musiquinhas didáticas também seriam bem mais úteis. Mesmo sendo "inútil", gosto do Black Sabbath, do Mozart, do Chico Buarque. A arte e o esporte são instrumentos de entretenimento, mas são sobretudo necessidades que não podemos expressar. Pagamos muito mais por um show que por uma refeição, e NÃO SOMOS OBRIGADOS A ISSO. Optamos porque atribuímos maior importância. O resto é balela. É claro que cometer exageros em nome do esporte e da arte, brigar, matar, cometer suicídio, roubar para ver um show, e outras distorções, são condenáveis. Mas ter um time pelo qual torcer e comprar um Poster de uma banda não constituem nenhuma aberração. E esse negócio dos jogadores de futebol e artistas terem de aplicar seu dinhero em filantropia? Dinheiro de futebolista é mais direito social que o de empresários e de pessoas que trabalham em "coisas úteis"? Quem propõe isso doa algum percentual de sua renda a instituições de caridade? Outra besteira. Eu gosto do menino do farol, da Madre Tereza de Calcutá, do Barack Obama, do Lula, do Pelé, do Felipão. Ouço e me agito quando tocam o Hino Nacional, o do Corinthians, Neon Nights ou Queen of the Night, do Mozart. Acho os quadros do Bosh intrigantes, do Da Vinci maravilhosas, e os desenhistas de quadrinhos da Vertigo impressionantes. Sem precisar "aplicá-los" em meu cotidiano. Sem contar as calorias. Sem dar satisfação a ninguém. Só gosto. Fui!!!

4 comentários:

  1. Com certeza não acho condenável a admiração e o fascínio pela arte e pelo esporte, pelo contrário, considero neccessário para o desenvolvimento cultural de cada um. Só acho que a mesma empolgação destinada a esses assuntos poderia ser aplicada em outros campos.

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  2. É verdade Ronaldo não podemos ser condenados pelo que gostamos, apesar de eu não gostar de futebol e acreditar que há uma infinidade de coisas mais importantes no mundo, porém não estou contente com os rumos da sociedade e concordo com o Afonso e com o Felipe de pretender mudar o mundo e me baseio no vídeo que postei. Quando vc coloca que nem tudo é ideologia, eu entendi que está mostrando um lado da ideologia, daquela que tanto discutimos: uma forma de mascarar a real intenção. Porém, você concorda que mesmo que um dirigente queira construir uma estrada para ligar um lugar a outro e permitir o trânsito de veículos, e só, há um ideário por trás, um objetivo que neste caso visa o bem comum? Por isso penso que tbm é uma ideologia...

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  3. Eu adoro futebol, e também disputas entre gladiadores.
    Mas acho que eu prefiro as disputas porque pelo menos eles dão uns pães neh?!
    Se bem que agora tem bolsa-família.


    Brincadeiras e alusões a parte, acho sim válido separar o que pode ter valor ideológico ou não, e não acho que devemos abrir mão das coisas que gostamos, não devemos ser falsos com nós mesmos. As coisas ao meu ver irão mudar quando as preferências mudarem.
    Quando eu preferir ver um documentário, ou ler uma reportagem, ou qualquer outra coisa que possa trazer bons frutos, e realmente preferir essas coisas a assistir o Palmeiras jogar (usei o futebol como exemplo por ja ter sido citado).
    Não serei falso dizendo que essa já é minha realidade, mas digo que eu tenho treinado e bastante para alcançá-la.

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  4. Isso que eu quis dizer no comentário do post do Felipe, podemos confundir mas, nem tudo é ideologia.

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